quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Que cabe num bolso

Fred do Nascimento tem 19 anos. Tentou vestibular para Engenharia, mas levou ponto de corte. Tentou a segunda vez e cometeu o mesmo erro. Resolveu tentar outras oportunidades, como arrumar um emprego rapidamente ou prestar concurso. Descolou um trampo num Call Center.

A vida de Fred agora é fazer com que as pessoas comprem o seu produto. O objetivo dele comercializou-se, e tudo tem um preço. O dia-a-dia dele é pesado, fechado por paredes e toques telefônicos. O único momento de contato social é no ônibus, no café do intervado do Call Center, nas raras peladas de domingo, quando ele folga, e só!

Certo dia, andando pela Conde da Boa Vista, Fred deparou-se com um casaco perfeito, bem costurado, cor combinando com a pele, marca da boa - o que é mais importante - e, claro, um preço alto que preenche apenas o espaço do bolso e um sentimento que, após vestir o casaco, passará.

Mês passado, Fred voltava da cozinha, quando chegou na sala e viu na Tv a propaganda de uma promoção de Celular. No aparelho, novas tecnologias: foto, jogos online, booth, etc...Era tudo o que Fred queria mais, e tinha um preço que cabia no seu bolso. Mas, ao usar e ver que não serve mais, o sentimento acabará.

No último domingo, enquanto aproveitava a folga da empresa, Fred coçava os cabelos e olhava o mundo passar na rua. Observou uma criança junto com a mãe e o pai, sorrindo. Fred admirou aquele sentimento, viu que sem ele não vivia. Mas aquele sentimento não cabe num bolso: o de ser feliz.


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