segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Uma História sem pé nem cabeça assim como o amor - PARTE II

Quando as coisas mudam o sentido, procuramos encontrá-lo na forma que mais nos agrada. Difícil mesmo foi sair à procura de algo que preenchesse o espaço que sobrou desde a partida dela, naquele fim de tarde. Foi um fim de tarde de domingo, muito esquisito. Já era quase noite, as ruas iluminadas por aquelas lâmpadas públicas amarelas, que dão um ar perigoso, assombroso, como se você estivesse sendo seguido por alguém. Embora tivesse muita gente no bar da esquina, sem a pessoa que eu amo, a solidão é maior em qualquer sentido e, dentre todos esses sentidos, quero um que agrade a minha circunstância. Demorou um pouco para afastar as dores que sobraram. Algumas vezes, enquanto lia um poema, ouvia música, ia correndo até o quarto, ou até à cozinha, para contá-la a nova descoberta e acabava esbarrando na tal ilusão acompanhada do sentimento fúnebre e estranho que é estar só. Mesmo com essas ilusões, e com um tempo que demorou a passar, voltei à minha vida normal. 

Consegui um emprego de historiador em um Instituto Federal. O salário é bom, as pessoas com quem eu trabalho são maravilhosas. Mas há um coisa que me deixa um pouco preocupado. Abracei intensamente o meu trabalho. Tenho me dedicado a criar uma teorias humanísticas, baseadas em outras teorias, de outros filósofos e, por mais que as teorias sejam humanísticas, eu perdi o meu lado humano de viver. Aprendi a valorizar demais os debates sobre quem é melhor: Marx ou Adam Smith?. Aprendi a me acostumar  andar pelas ruas observando as marcas, os produtos, e declarar que todo mundo é vítima de um sistema, é manipulados, e eu mesmo esqueci de olhar por quem estou sendo manipulado. Pra falar a verdade, eu cansei de ouvir as pessoas falarem que Marx realmente é complexo - e, na maioria das vezes, pessoas que nem  leram o livro do rapaz. E isso me fazia criar um desânimo. Na verdade, eu estava entrando numa vida monótona, descuidada. As coisas se repetiam e eu adorava aquilo. A pior situação que pode ocorrer sobre a humanidade é o mal da rotina , da repetição. Isso a deixa enclausurada, sem condições sobre qualquer coisa, principalmente sobre si mesmo. 

Eu estava lendo um livro em casa. Depois da partida dela, eu mudei de apartamento. Moro, hoje, em um mais apertadinho, mas onde cabe todos os meus livros, a minha Tv, meu computador e minha vida única e repetida. Na minha vida, depois dela, são as mesmas pessoas: o Padeiro, o pessoal do instuto, meus alunos, meu vizinho e o entregador do jornal. E quando foi que eu percebi que minha vida estava única e repetida? Quando uma aluna chegou para tirar uma dúvida. 
- Professor...
- João, por favor..Evite o professor.
- Certo, JOÃO. Queria conversar com o senhor sobre uns assuntos de Filosofia. Pode ser?
- Claro, vamos ali. 
- Eu sou filha única, João. E esse ano, ano de vestibular, sinceramente, eu não aguento mais. Minha mãe tá um saco, vive pegando no meu pé. Diz que eu tenho que passar porque eu tenho que passar...
- Ah, como os tolos adoram um titulo para esnobar...
- O que disse?
- Hã? Nada, continue. 
- Então, além disso, eu to em dúvida entre Jornalismo e Engenharia. 
- Isso quase não é muito filosofia, mas tudo bem...
- É que foi a única forma de eu chegar no senhor..
 - Sim, tudo bem. Vamos lá. Veja, você tem que entender...

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