sexta-feira, 10 de abril de 2009

Quem inventou o amor?

Para quem ama constantemente, quem inventou o amor é a pergunta mais tradicional, mais freqüente e, também, a mais sem resposta de todos os tempos. Para muitos é uma filosofia sem sentido, a tal ponto de esquecermos de viver a realidade para nos encontrarmos com uma dúvida que reina há séculos.

Mas só para polemizar, quem inventou o amor? A nossa própria consciência ou os instintos? Por que amamos? Bem filosófico, como falei antes. Rondou pela rede nos últimos meses uma matéria afirmando que um Robô programado para amar teve ataques obsessivos. Seria mais um mote de curiosidade sobre o existencialismo do amor se não fosse uma farsa a matéria publicada na internet.

Porém, embora seja uma falácia o ataque obsessivo, a criação de um robô programado para amar é muito inquietante para quem desconhece a origem do amor. Em síntese, será que nós nascemos programados para amar? Que fórmula utilizou o (contestado) cientista criador do Robô amável?

A dúvida vai muito além da invenção do amor e recai sobre a disseminação do sentimento dentro da sociedade atual, afinal de contas, se nós estamos criando ou pensando em criar um meio artificial com sentimentos para nos agradar, é porque o mal da solidão anda depressa nas ruas do século XXI. Cada vez mais são tangentes as modificações nos relacionamentos, tanto de amizades quanto de namoro e casamento.

Aumenta constantemente o número de mulheres que largam a relação a dois e passam a viver sozinhas, colecionando grandes aventuras amorosas e tocando sua vida profissional naturalmente, ao mesmo tempo em que o novo “ficar” ganha corpo na sociedade. Mas o que leva a esse desapego com a vida compartilhada?

Provavelmente a competitividade do mundo atual faz com que haja essa preferência pelo individualismo, e a tendência consumista faz reinar grandes entraves de convivência na hora de organizar os gastos de uma vida de casado. Além do que, nunca se falou tanto em liberdade na sociedade como nos dias de hoje, o que torna a solteirice o simbolo maior da liberdade. Mas nunca fingiram tão bem viver em liberdade.

Em um mundo em que as idéias se proliferam com rapidez, as informações se transportam de uma forma muito veloz, as diferenças culturais se fazem instantaneamente presentes e, por mais que verbalizem “Liberdade”, há um grande duelo de culturas e idéias que fomentam a separação dos diferentes, criando um repúdio nada democrática, ou melhor, livre.

O interessante é que as divergências ideológicas já são percebidas muito antes do relacionamento firmar-se e, como conseqüência, há um desequilíbrio emocional, gerando intrigas, descontentamentos, o que fortalece a idéia de que os opostos, no século XXI, não se atraem.

O conjunto da verdade é que procuramos muito mais a nossa cópia, a nossa mesma idéia em outro corpo, como se fosse muito mais uma autoafirmação do que um prazer inestimável de conviver e querer bem alguém. A tendência ao encontrarmos pessoas diferentes é acharmos que são as exceções, e as que se parecem conosco uma grande verdade absoluta e inquestionável.

A pobre e infeliz conseqüência desse novo trajeto emocional da humanidade na sociedade do século XXI é um trágico sentimento de solidão, depressões constantes e, por final, aquilo que falei no inicio do texto: chegou ao ponto de se reinventar o amor. Reinventa-se o amor para disfarçar a tristeza embutida no ato de não encontrar o possível semelhante, aquele que compreende as nossas angustias, etc.

A procura por algo que nos seja semelhante, que nos compreenda e aceite os nossos desejos e erros se transformou na mais angustiante obsessão por suprir esse ar de solidão que esvazia o ser de cada um. Na verdade, essa busca por pessoas que nos compreenda, ame os nossos defeitos, também gravita na possibilidade de evitar questionamentos sobre a nossa capacidade dentro de uma sociedade amplamente competitiva. E isso gera o famoso medo de uma distante concorrência.

Quem inventou o amor queria ser o pai de sua autoafirmação dentro de uma sociedade que foi remodelada pelo egoísmo e pela individualidade. Acredito que não precisamos saber quem inventou o amor, mas que precisamos descobrir a melhor forma de senti-lo, ou seja, é necessário reaprender a amar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário