domingo, 14 de junho de 2009

O poder da terceira idade


Depois de séculos sem encontrar uma grande amiga, tive o prazer duplo ao reencontrá-la. O primeiro, mais que óbvio, era o prazer de estar com aquela figura mais uma vez, poder abraçá-la, ouvir sua voz com um discurso pertinente, regado por muita inteligência e suavidade. O segundo foi o livro que a emprestei, e que permeou mais um reencontro, só que dessa vez com o nobre escritor Gabriel Garcia Marquez.

Memórias de minhas putas tristes, na primeira vez que li, representou uma síntese ultrapassada da terceira idade, além da inócua biografia chatérrima, cheia de sentimentos pessimistas e que agorava a questão da velhice. Foi a primeira impressão, e por mais que digam “a primeira é a que fica”, faço valer o contrário. Na segunda vez que li, abracei-me com outro sentimento e dei razão ao colombiano, ao afirmar que a juventude é eterna.

A larga vivacidade dos velhinhos me passa um ar invejoso, por vezes. Entro numa vontade muito utópica de transfigurar a inteligência natural da idade para esse corpo disposto de um jovem de 16 anos ainda imaturo. Márcia Tiburi, grande filosófa brasileira, abordou o medo de uma forma tão sintética que tirou as palavras das minhas crônicas: hoje, o maior medo não é o que sentimos exatamente, e sim o medo que temos de nossas apreensões e angustias. O medo que sentimos de nossos futuros erros, ou seja, o medo do medo que dá. Medo que é sintoma da sociedade movida a metas, trabalhos incansáveis e rotinas massacrantes.

Possivelmente, esse medo, creio eu, não atinge meus amigos aposentados acomodados na tranqüilidade. O poder da terceira idade em reorganizar os trilhos da vida, sem temer a ninguém por suas posições, me atrai constantemente a esse mundo despreocupado. É um levar a vida por querer e não para agradar. É bem verdade que essa situação é restrita a poucos no mundo hoje, infelizmente. Mas que isso possa acontecer sem restrições, nem médicas nem sociais.

Chama-me mais atenção ainda a grande distância que existe entre os jovens e os nossos velhinhos. Distância essa que é mensurada no conteúdo das preocupações, que circundam entre vestir um bom jeans ou que a que horas fazer uma caminhada na praça, o livro que vou ler. Os jovens acreditam preencher a alma com as belas marcas, as belas baladas e pôr fé que esse poder gabarita a famosa liberdade. Liberdade é muito mais. É poder ser você mesmo! Assim vovô acorda todos os dias, nos seus sessenta e pouco: acreditando ser ele mesmo.

A autonomia é importante para a nossa vida e nossos idosos dão uma aula quando se trata de independência. O ser independente caminha lado a lado com a auto-estima, que faz revigorar o sentimento de utilidade e aguça o pensamento ou o simples ato de pensar. Portanto, que a autonomia venha, porque tudo que for de bom grado é bem vindo, e toda felicidade reacende a paixão por viver, afinal, antes tarde do que nunca!


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