domingo, 21 de junho de 2009

Talento da estrela.

O ano de 2009 marca alguns centenários importantes para arte brasileira. Em 1909, o escritor mais importante do Pré-Modernismo, Euclides da Cunha, morreu nesse mesmo ano, deixando um conjunto de obras que marcou a literatura brasileira, com destaque para o livro Os Sertões.

No mesmo ano, 1909, em Várzea da Ovelha e Aliviada, certa criatura batizada por Maria do Carmo Miranda dava um ar de sua graça em terras lusitanas. Nasceu em fevereiro, mês este que, um ano depois, já morando no Brasil, Maria do Carmo se tornaria grande admiradora, justamente pelo colorido e alegria que tomavam a cidade durante esse período. Era o carnaval carioca.

De Maria do Carmo Miranda para a artista de cinema e cantora Carmem Miranda. Antes de entrar no mundo profissional da música, Carmem já respirava ares musicais aos 14 anos de idade, quando atendia cantando marchinhas e boleros os clientes numa loja que foi o seu primeiro emprego. Toda essa desenvoltura para música é oriunda da influência da irmã, Aurora, que também entrou no mundo artístico da música junto com Carmem, no ano de 1930.

Enquanto o país vivenciava certo tempero de mudança política com a ameaça do golpe de Vargas- que acabou resultando na Revolução de 1930-, aquela moça irreverente, que cantava cheia de coloridos no corpo e frutas na cabeça, com uma voz debochante e irônica, gravava sua primeira música, "Pra você gostar de mim", jingle que marcaria seu cartão de visita no cenário da música popular brasileira.

Após tomar os rádios e fechar contratos inéditos para época, o jornal O País dava a dimensão desse novo ícone na música ao estampar na capa a seguinte frase: "A maior cantora brasileira". A frase acabou tornando-se manchete da matéria sobre um show de Carmem. A partir de então as marchinhas de carnaval e os bailes não seriam mais os mesmos sem a presença da irreverente Carmem Miranda.

O frenesi dos shows, as agitações do público e a presença fantástica de palco da Carmem, além de sua imensa beleza, deram ingresso para a cantora luso-brasileira encarar o mercado internacional da música e realizar um grande show, com as melhores repercussões, em Hollywood.

Ao pisar na terra do Tio Sam, o sucesso foi logo visto. No ano de 1939, enquanto o mundo fervia na 2° Grande Guerra, Carmem estrelava no musical "Streets of Paris", com um resultado bastante satisfatório para a cantora, agradando o público americano e principalmente os críticos, mostrando todo o seu potencial e o balanço tropical irreverente.

Alguns Historiadores que se debruçam na análise da música do país atestam que Carmem, diante da apresentação que fez ao Presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, tenha ganhado uma dimensão muito importante no cenário diplomático entre os países, até chegar ao ponto de ser batizada de “Embaixadora da Música” nos EUA. Essa ligação da Carmem com os americanos favoreceu o retorno de uma relação diplomática entre os dois países que andava morna havia já um tempo, principalmente depois que Vargas, presidente brasileiro, apertou os laços com Nazismo de Hitler.

Por ter morado muito tempo nos EUA e ter ganhado ótimos cachês, talvez o maior dos EUA para época, e ainda ter caído na "boca do povo", gerou uma revolta aqui no Brasil proporcionando, inclusive, observações críticas do tipo "Ela virou americanizada", "Não reconhece as origens".

A partir desse mal entendido, ela lança a música "Disseram que voltei americanizada". Mas a verdade tem que ser dita, doa em quem doer. Carmem virou um grande show dos carnavais e das noites cariocas, e americanas também, exaltando seu ar maravilhoso de um tropicalismo ritmado no suingue, no deboche e irreverência Em 2009 faz 100 anos que nascia esta figura da música nossa de cada dia.



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