terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sobre as cartas.


Remetente e destinatário são palavras que estão frequetemente presas ao meu vocabulário. Remeter algo com um destino amigo faz parte da minha vida de escritor. "Mas ela é tua vizinha, pra que escrever uma carta?" foram palavras ditas por uma amiga minha enquanto eu disse que estava indo deixar uma correspondência, ou melhor, uma carta na casa de outra amiga nossa e que, em poucos minutos, retornaria para a boa conversa.

Ela abriu os olhos, franziu a testa e me indagou de uma forma veemente, como se o critério fundamental para escrever aos bons amigos fosse estar a uma distância, de mais ou menos, alguns quilômetros além. Mas pra mim não tem isso. Pode estar onde estiver, escrevo com maior prazer.

Tudo vira um belo motivo para uma boa carta. Bianca, minha amada amiga de grandes jornadas, deve ter um baú imenso cheio de cartas que escrevo pra ela. Mesmo ela morando ao meu lado, escrevo coisas confortantes, confissõões, bilhetes carinhosos e um simples "Bom dia!". Costumo deixar essas cartas na casa dela às segundas. Quando a noite do domingo vai terminando, vou pisando de mancinho, respiro fundo e empurro a folhinha por entre as brechas da porta e o chão, e torço pra ela encontrar a cartinha lá, linda e bela esperando pelo seu acolhimento.

Outra coisa que adoro fazer é emprestar livro. Mas livro é como remédio: precisa de uma bula para indicar como manipulá-lo. Por isso, quando vou emprestar um livro a alguém, como foi o caso recente de Maria Paula, a qual está tendo o maravilhoso prazer da leitura de José Saramgo, escrevo um bilhete-carta contando minhas sensações com o livro, o que eu absorvi de informação e o velho desejo de Boa leitura.

É uma pena que as pessoas tenham em mente a pobre concepção de que carta é somente de amor. Não e tão somente "de amor". Existe aquela que mata uma saudade; a que nos enche de alegria logo cedo, de um amigo que mora ao lado, mas continua nos escrevendo; tem a do assunto sério de um irmão que mora longe; tem a carta repleta de verbos revoltados de um amigo que perdeu o emprego, ou brigou com a namorada; tem aquela carta que é mais um aviso " amgio, escrevo pra dizer que chego em breve"; e tem as cartas que são "metacartas", aquelas se explicam por que chegaram ali e o porquê de terem sido feitas.

A estrutura de uma carta pra mim não tem estrutura. Ela tem que ser feita a gosto do escritor. Não existe limites de linhas, nem de expressões a serem usadas. Quanto mais emocioante for, mais carta é. E a forma de fazer não exige nada de máquinas ou computadores: a velha canetinha bic, ou aquela de ponta fina, e tudo está no trilho certo de uma boa carta. O que importa muito mais é o que ela representa, e não o que ela é fisicamente. As cartas sempre tocam o nosso coração, independemente da emoção da notícia que ela nos traz. Escrever carta é bom, mas melhor ainda é receber.



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