A vida é um eterno passeio em si mesmo, fazendo provações, reconhecendo limites e experimentando motivos. Na minha casa há uma tênue e lenta frequência religiosa. Meu pai é o mais assíduo aos rituais da Igreja Católica. Minha mãe executa uma leitura mais ponderada do livro sagrado. É um papo mais particular com Deus. Eu sou o meio-termo, aquela insegurança, a ardente rebeldia. Sou o corte da transgressão aqui em casa, mas também não sou adepto das arrogâncias intolerantes. O respeito é fundamental.
Assim sendo, vou aproveitar a sexta-feira de outras maneiras. Admiro aquelas pessoas que ficam mais reclusas e veneram o exemplo de Cristo na cruz - sem colocar em questão as polêmicas sobre as evidências históricas da existência de Jesus. Eu prefiro outras formas de viver o feriado. Por exemplo, amanhã na Tv a cabo vai passar um programa sobre Chico Buarque, meu maior ídolo na América Latina. Vou assistir. E como eu sei que vai rolar aquela minha música preferida, já coloquei na geladeira a minha cerveja preferida. Vou ouvir um bom Chico, entender suas histórias, degustar uma cerveja, ficar ao redor de boas companhias e mergulhar numa nostalgia de um tempo turvo, mas extremamente interessante.
Olhando direitinho a experiência de Chico, fica aquela sensação controversa de que, em tempos de Ditadura, a memória da resistência é atraente. Há um tom de heroísmo que seduz nossas lembranças e por isso o Chico seduz, com ingressos esgotados a um valor exorbitante. São ideias que pairam em nossa atmosfera e fica difícil de explicar. A mesma coisa são os feriados: todos curtem, mas ninguém explica. Para que? Deixa assim mesmo.
Se um dia for preciso falar sobre o nosso tempo, haverá uma frase inevitável para nos descrever: "Viver sem saber por quê". Apenas experimentando as maratonas de nostalgias, com passados vertiginosos nascendo em nossas histórias.
Bom feriado.
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