Nunca,
mas eu digo com toda convicção que nunca, o Brasileiro deixará de amar o
futebol. É sua paixão ardente, que ferve, derrete a epiderme e desata todos os
fios de racionalidade que compõem o juízo. O futebol é o amante do brasileiro.
Não
foi à toa que o mestre das palavras, Nelson Rodrigues, em uma de suas crônicas
esportivas, atestava: a canarinho em campo é a pátria de chuteiras, dada a
dimensão do espetáculo que era um jogo brasileiro em copa do mundo, amistoso ou
demais competições internacionais envolvendo seleções.
Mas
depois de ontem, comovido, o Brasileiro aposentou suas chuteiras. Morgou. Não
há graça em vestir a camisa amarela, reunir os amigos em torno da Tv e tomar
algumas “geladas” durante a partida, ou ir ao estádio, enrolado nas bandeiras,
embriagado de euforia e cantar, nas arquibancadas, a todo peito: “Eu sou
brasileiro”. Não. Não há mais isso.
É um
desapego que corre o país. Em São Paulo, a desilusão ficou evidente nas vaias,
nas ensurdecedoras agressões verbais. Em
Recife, mesmo com o largo resultado de 8x0, não entusiasmou. O adversário
não deixou que a goleada se
transformasse num resultado exultante e fez com que piadas e indiferenças
corressem as ruas do Recife. Foi-se embora a tradição pernambucana de alavancar
a seleção brasileira, em absoluto.
Já
faz um tempo que o tradicional apaixonado por futebol mandou para escanteio o
time de sua nação. É muita concorrência para as firulas ineficientes do Neymar,
a insuficiente tendência à camisa 10 de Lucas, a ausência de um zagueiro
destemido em rifar e travar bolas ali atrás e de um lateral operário, indo e
vindo, do ataque à defesa.
Concorre
com eles a incansável publicidade, que exige deles mais exibição do que
competência em campo, que leiloa suas habilidades, controlando seus passos e
censurando as cores de um espetáculo que, por natureza, nunca foi adepto do
controle das emoções.
Dessa forma, lamenta
o torcedor o escrete definhar, amargurar a ausência do talento e da emoção, da
vibração e da tensão inebriante que é uma partida de futebol. Lamenta o
torcedor e, mesmo desacreditado, vai dormir antes de o jogo começar, mas
aciona seu radinho de pilha embaixo do travesseiro e confere de longe, como um
pai magoado observa um filho rebelde.
E como quem lava as mãos pela
desobediência constante, na solidão da tristeza e na dor ácida da separação,
estende, pelos cadarços, as suas chuteiras. Aposenta-se das arquibancadas dos
sonhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário