terça-feira, 11 de setembro de 2012

A pátria aposentou as chuteiras.


Nunca, mas eu digo com toda convicção que nunca, o Brasileiro deixará de amar o futebol. É sua paixão ardente, que ferve, derrete a epiderme e desata todos os fios de racionalidade que compõem o juízo. O futebol é o amante do brasileiro.

Não foi à toa que o mestre das palavras, Nelson Rodrigues, em uma de suas crônicas esportivas, atestava: a canarinho em campo é a pátria de chuteiras, dada a dimensão do espetáculo que era um jogo brasileiro em copa do mundo, amistoso ou demais competições internacionais envolvendo seleções.

Mas depois de ontem, comovido, o Brasileiro aposentou suas chuteiras. Morgou. Não há graça em vestir a camisa amarela, reunir os amigos em torno da Tv e tomar algumas “geladas” durante a partida, ou ir ao estádio, enrolado nas bandeiras, embriagado de euforia e cantar, nas arquibancadas, a todo peito: “Eu sou brasileiro”. Não. Não há mais isso.

É um desapego que corre o país. Em São Paulo, a desilusão ficou evidente nas vaias, nas ensurdecedoras agressões verbais.  Em Recife, mesmo com o largo resultado de 8x0, não entusiasmou. O adversário não deixou que a goleada se transformasse num resultado exultante e fez com que piadas e indiferenças corressem as ruas do Recife. Foi-se embora a tradição pernambucana de alavancar a seleção brasileira, em absoluto.

Já faz um tempo que o tradicional apaixonado por futebol mandou para escanteio o time de sua nação. É muita concorrência para as firulas ineficientes do Neymar, a insuficiente tendência à camisa 10 de Lucas, a ausência de um zagueiro destemido em rifar e travar bolas ali atrás e de um lateral operário, indo e vindo, do ataque à defesa. 

Concorre com eles a incansável publicidade, que exige deles mais exibição do que competência em campo, que leiloa suas habilidades, controlando seus passos e censurando as cores de um espetáculo que, por natureza, nunca foi adepto do controle das emoções.

Dessa forma, lamenta o torcedor o escrete definhar, amargurar a ausência do talento e da emoção, da vibração e da tensão inebriante que é uma partida de futebol. Lamenta o torcedor e, mesmo desacreditado, vai dormir antes de o jogo começar, mas aciona seu radinho de pilha embaixo do travesseiro e confere de longe, como um pai magoado observa um filho rebelde.

E como quem lava as mãos pela desobediência constante, na solidão da tristeza e na dor ácida da separação, estende, pelos cadarços, as suas chuteiras. Aposenta-se das arquibancadas dos sonhos. 

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