Li uma péssima notícia hoje
no meu trabalho. Acostumado a apurar notícias de vários jornais e sites na
internet, geralmente escolho temas para me debruçar um pouco mais. Uma anotação
sorrateira, uma pesquisa no google, uma puxada de assunto com meus parceiros de
trabalho. Mas hoje fiquei inconsolado. Fui pego, talvez, desprevenido.
É que assaltaram o amor
recifense. Uns dias atrás alguns casais, movidos por uma paixão ardente,
fizeram uma singela homenagem ao amor. Trancafiaram, em cadeados, o sentimento
de cada um. Segundo estava no jornal de hoje, “um monumento ao amor”.
Achei isso uma coisa
sensacional. Em tempos de materialismo puro, da renúncia da convivência, dos
relacionamentos soltos, inconsistentes e viris, alguém escolheu outra pessoa
para se prender, por amor, em um cadeado. Expor os nomes, os carinhos, deixar
ali marcado que se amam. Mas, infelizmente, alguém roubou 200 desses cadeados representativos.
Fiquei cá imaginando o que
fizeram moças e rapazes depois desse ato tão enobrecido. Foram tomar um sorvete
e passear de mãos dadas? Resolveram
sentar ali mesmo, na beira do Capibaribe, na belíssima rua da Aurora, e ficar
de carinhos, comendo pipoca, sonhando com a vida e imaginando que dali, daqueles cadeados, o amor nunca sairia? Ou pensaram num cinema, pegar
uma sessão sem graça e, no escurinho, se beijar e alisar as mãos? Será que
pensaram num motel e, no furor das homenagens, transaram incansavelmente até o
sonoro e mínimo eu te amo aos ouvidos, com os pelos atiçados?
Será que foram pagar as
contas da nova casa, olhar novos móveis e projetar o novo lar? Se sim, hoje
todos esses sonhos, guardados com todo zelo nos cadeados, foram furtados,
levados na pura ignorância, na brutalidade de uma marretada esfacelando
corações imaginários.
Sobre o caso, eu abri duas
linhas de investigação: a primeira considera assalto puramente em busca de
lucro, em virtude de um possível valor
que o material do cadeado possui. A segunda, a que mais pesa nas deduções e nas
pistas deixadas, é carência. Alguém, que desejou estar exatamente na hora da
homenagem e não esteve porque faltava o amor, resolveu se vingar, arrancar com
ódio aquelas marcas de felicidade que não possui. Levou pra casa todos os
cadeados, entulhou todos no quintal, chorou desesperadamente e, o que tudo
indica, voltará lamentado o ato brutal que cometeu.
Aparecerá nos jornais, dará
entrevista ao rádio e será convocado para um programa da Tv. Aos prantos, colocará
a solidão como comparsa nessa história e, após o anuncio de prisão, durante o
último depoimento ao delegado, tentará
reduzir a pena afirmando que ela foi a mentora intelectual do crime. Que
seduziu sua racionalidade, que introduziu em sua mente essa ideia maluca de
sequestrar o amor dos outros. Uma pena. Pobre rapaz. Deixou o Recife menos
amável. O que compensa são os corações grudados na memória dos homens e das
mulheres que lutaram pelo fim da Ditadura. Corações lindos que são obras do
projeto Tortura nunca mais,expostos na linda rua da Aurora..
Ó, rua da Aurora, por que és
tão linda? Por que só tu, rua do Rio, que recebes essas homenagens, esses
amores, esses ímpetos da solidão, esses sentimentos? Perdoa os desamados, acolhe
como teus filhos e cuida com cadeados amáveis e corações protetores.
Aurora de minha vida! tenho uma foto perfeita pra esse texto sabia?
ResponderExcluirEu aceito a foto, Rafa querida. Posso usar? :)
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