A maior dificuldade do mundo é
encontrar um pernambucano concentrado em alguma atividade que não seja pensar no
carnaval. Esses dias de janeiro, ensolarados com a benção dos santos
litorâneos, já são de extrema ansiedade e articulação ébria.
Desde novembro, salvo algumas
exceções, todo recifense já sabe de cor a programação dos blocos, prévias,
arrastões, banho de mangueira e putaria nas ruas da cidade até março.
Uma pesquisa inútil encomendada
pelo blog identificou, junto as ineficientes operadoras telefônicas, um aumento
significativo de mensagens curtas e grossas, geralmente encomendando uma festa
ou soltando piadinhas.
Para apimentar a situação, a CBF
resolveu emplacar de vez uma competição há tempos fora de moda: a copa
nordeste. O resumo da ópera é que, todos os dias, é dia de festa. Comemoram-se
os capricornianos, a vitória do clube preferido, bebe-se pra resolver os
últimos detalhes do bloco, dana-se em alegria na prévia. E a concentração é
posta no bolso, como umas férias improvisadas. Nesse caso, não há demissão
porque o chefe passa pela mesma empolgação crônica do período, tentando
disfarçar o relapso atrás de uma seriedade fajuta e cômica.
Fevereiro chegou. A madame e o
cabra já podem desentocar as fantasias.
São máscaras, camisas, tintas, lantejoulas e demais objetos que nasceram,
simplesmente, para o carnaval. Na hora de tirar do baú aquela fantasia, junto
vem a memória dos carnavais: os beijos roubados, o porre animado com a turma de
sempre, o escorregão na ladeira da misericórdia quando choveu no sábado de
carnaval de 2007; vem com um susto o carnaval em relacionamento sério, a ponderação, o friozinho na barriga que dar ao lembrar de alguma coisa bacana, emocionante, e em breve afinam-se, elegantemente, na memória os primeiros tons de um Vassourinhas, Hino do Elefante ou Come e dorme.
Surge tudo de uma vez só. A tendência é selecionar as memórias que encaixam perfeitamente na roupa que se planeja
para 2013. Vai adornando com o espirito atual, retoca com aquela ingenuidade do
primeiro carnaval e aquece com as prevenções de um veterano das ladeiras
olindenses. Retalha com o seu próprio desenho, com o seu disfarce casual, imaginando
ser o que sempre sonhou pelo menos durante os quatro dias. Aqui, o figurino é á altura de um grande palco onde o povo é o artista. Permite-se essa imaginação
porque, felizmente, na alegria de brincar a fantasia nunca mofa. Aqui, em fevereiro, nunca é sem tempo de ser o que se sonha.
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