sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O mofo não pega a fantasia.


A maior dificuldade do mundo é encontrar um pernambucano concentrado em alguma atividade que não seja pensar no carnaval. Esses dias de janeiro, ensolarados com a benção dos santos litorâneos, já são de extrema ansiedade e articulação ébria.

Desde novembro, salvo algumas exceções, todo recifense já sabe de cor a programação dos blocos, prévias, arrastões, banho de mangueira e putaria nas ruas da cidade até março.
Uma pesquisa inútil encomendada pelo blog identificou, junto as ineficientes operadoras telefônicas, um aumento significativo de mensagens curtas e grossas, geralmente encomendando uma festa ou soltando piadinhas.

Para apimentar a situação, a CBF resolveu emplacar de vez uma competição há tempos fora de moda: a copa nordeste. O resumo da ópera é que, todos os dias, é dia de festa. Comemoram-se os capricornianos, a vitória do clube preferido, bebe-se pra resolver os últimos detalhes do bloco, dana-se em alegria na prévia. E a concentração é posta no bolso, como umas férias improvisadas. Nesse caso, não há demissão porque o chefe passa pela mesma empolgação crônica do período, tentando disfarçar o relapso atrás de uma seriedade fajuta e cômica.

Fevereiro chegou. A madame e o cabra já  podem desentocar as fantasias. São máscaras, camisas, tintas, lantejoulas e demais objetos que nasceram, simplesmente, para o carnaval. Na hora de tirar do baú aquela fantasia, junto vem a memória dos carnavais: os beijos roubados, o porre animado com a turma de sempre, o escorregão na ladeira da misericórdia quando choveu no sábado de carnaval de 2007; vem com um susto o carnaval em relacionamento sério, a ponderação, o friozinho na barriga que dar ao lembrar de alguma coisa bacana, emocionante, e em breve afinam-se, elegantemente, na memória os primeiros tons de um Vassourinhas, Hino do Elefante ou Come e dorme. 

Surge tudo de uma vez só. A tendência é selecionar as memórias que encaixam perfeitamente na roupa que se planeja para 2013. Vai adornando com o espirito atual, retoca com aquela ingenuidade do primeiro carnaval e aquece com as prevenções de um veterano das ladeiras olindenses. Retalha com  o seu próprio desenho, com o  seu disfarce casual, imaginando ser o que sempre sonhou pelo menos durante os quatro dias. Aqui, o figurino é á altura de um grande palco onde o povo é o artista. Permite-se essa imaginação porque, felizmente, na alegria de brincar a fantasia nunca mofa. Aqui, em fevereiro, nunca é sem tempo de ser o que se sonha. 

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