Que
não me xinguem por aí de cafajeste, cafona ou machista. Apedrejem, mas sem
rancor ou títulos inoportunos. Por isso, antes de começar, de fato, esta
croniqueta, um aviso a tod@s @s navegantes. Parafraseando o tal Buarque de
Holanda, não me levem a mal, me levem á toa, mas, por favor, não pela última
vez.
O
meu assunto é por demais sincero. Merecia como retrato do texto um gráfico, um
balanço comparativo dos últimos anos, mas não sou tão inteligente e confiável
assim. Reza uma lenda de que para transformar uma mentirazinha em algo mais convincente
basta usar gráficos. Todo mundo acredita.
Para o meu tratado de hoje, uma descrição qualquer já basta. A análise é fruto
das ciladas que quase me envolvo por causa da imprudência dos meus olhinhos.
Nos últimos tempos, eles têm me feito pagar caro por esse senso observador mais
aguçado. O par de retinas tem se apaixonado depressa pelas aparências femininas
que cruzam as ruas do Recife, as divinas damas anônimas, que desfilam nesse
asfalto tentador.
O
DataContos vem reparando nos mínimos detalhes. O carnaval vem chegando e me
aparecem as diabinhas, as enfermeiras, as jardineiras, cultivando uma liberdade
existencial tão atraente que nos convencem que a beleza termina apenas ali, na
fantasia. É um negócio louco de deixar nas alturas qualquer Sr. Folião Olindense.
São craques no riso fácil. Joga 10 na simpatia. Tem piadas prontas, rimando com
a vestimenta, muitas vezes se esquivando de uma olhada imprudente de alguém.
Também
não poderia esquecer da singela beleza daquelas que não ousam fantasias
profissionais. São mais tímidas e se conformam apenas com uma blusa adaptada,
um retoque na maquiagem e aquele nozinho sacana, que deixa metade do umbigo
exposto. Deixa em segredo um abdômen sedutor. Pura crueldade pra quem tem uns
olhinhos ácidos e imprudentes.
Lança
piscadas enviesadas para as universitárias. Destemidas e libertas, figuram na
paisagem como uma ode a democracia do olhar. Desfilam soltas, sem calor,
tabelam os passos na trajetória do vento, sem o mínimo esforço na sandália
rasteirinha.
Suas
saias longas provocam outras olhadas imprudentes com seu balé sereno, com os
decotes que aparentam o mau gosto de tão gastos.
Ah,
essas moças, divinas moças inquilinas do olhar mais investigativo. Dispersam
qualquer leitura nos ônibus ao cruzarem todo coletivo. Desembaraçam o cobrador
na hora do troco, se desfazem da catraca e humilham meus olhares mendigos,
desejando o repouso daquela silhueta passageira, apressada por fugir do foco
dos olhares imprudentes.
Não.
Não serei injusto de esquecer e excluir desta ode a “burocrata”. É aquela
estagiária-executiva, que se põe em blazers, vestidos longos e saltos altos.
São as corajosas que embelezam escritórios, habilidosas em pareceres, que
escrevem relatórios à mão escondendo um riso sacana por trás do cabelo que faz
cortina nas bochechas rosadas pela maquiagem. As burocratas, entendidas de A a
Z, sacam os por menores dos protocolos e amansam qualquer agonia de um estagiário-donzelo-estreante
do departamento.
Ah,
o cheirinho das burocratas. Inconfundível. É um misto de perfume, suor e bronze
da hora do almoço, quando ela aproveita e entrega um documento em outra repartição.
Cruza as pontes do Recife naquele malabarismo dos saltos, assanhando-se com os
ventos machos do Capibaribe, torrando a pele numa charmosa e invejosa Rua da
Aurora.
São
as damas que esses olhinhos imprudentes não resistem. Trovadores e amantes,
cometem a audácia de não se decidir de qual destas aparências, “que toda plebe
deseja”, combina melhor com seu projeto de vida, e voltam a olhar outras damas desse meu
Recife.
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